Uma mulher se atira diante do metrô, cena não incomum da contemporaneidade,
e que me parece carregada de significados. Um dia, ao invés de ingressar em um
vagão lotado, da massacrante rotina de trabalho, e calor, poluição, e perda de
sentido, que marca grande parte desta era industrial, altamente produtiva e
pouco humana.
No filme clássico de 1993, “Um dia de fúria.” (Falling
Dall), estrelado por Michael Douglas, trata de um homem, que no meio
de um engarrafamento, resolve abandonar tudo, em uma jornada de “protestos” contra as grandes incoerências
da vida em uma sociedade de consumo, em uma jornada que infalivelmente o
levaria a morte. Deixando uma mensagem: morrer é melhor do que isto.
O ser humano foi capaz de constituir uma capacidade
produtiva, tecnológica, de trabalho e produção de conhecimento, realmente titânica.
Fomos capazes de produzir muito do que a ficção cientifica imaginou nas décadas
em que a revolução tecno-cientifica se iniciou e as perspectivas futuras são a
maioria das vezes assustadoras.
Em tese, nada seria melhor, do que conquistarmos a
capacidade de criar e produzir inovações que auxiliem o homem na sua jornada,
na construção de um planeta melhor, em que, diferentemente dos nossos primeiros
ancestrais, não sejamos massacrados pelas condições naturais adversas, como as
secas, as doenças, terremotos, furacões, pestes, animais peçonhentos entre
outros. O que deu errado nesta história?
A partir da produção de roupas que nos protegiam do frio o
homem pode explorar os terrenos mais austeros da terra, como os esquimós que se
adaptaram a viver no pólo norte. Os calçados possibilitaram andar sem se
machucar ou protegidos de cobras e outros animais. Inventamos modos de
conservação de alimentos para que sobrevivêssemos a tempos de seca e frio
extremo, em que os alimentos se tornavam
escassos. Encanamos a água, que chega no nosso lar, a tratamos evitando doenças
que matavam e causavam muita dor. Construímos
casas confortáveis, cidades, cinemas, templos, foguetes..etc.
E os exemplos seriam inumeráveis, o homem é capaz de
transformar o ambiente em seu favor, ele é capaz, por meio da inteligência e
engenhosidade, de superar as condições adversas do ambiente natural e criar uma
vida mais rica, onde pôde voltar sua força e capacidade para aspectos mais
elevados da existência, como o refletir sobre sua própria condição no mundo, no
universo, a filosofia, o lazer, o entretenimento.
Porém, algo deu errado, em algum momento esta capacidade
alcançou um poder inimaginável, e um grande lapso se estende a até a atualidade,
o homem dormiu e deixou a fogueira acesa . Aquilo que foi inicialmente o que
havia alçado os homens em superioridade diante dos animais, quando chegou a se
postular a idéia de que “o ser humano é
um ser racional”, se tornou a própria fonte de adversidade, morte e desconforto
para o homem.
Em mais de dois séculos de revolução industrial o homem não foi capaz de tornar-se sujeito de todo
esse poder de criação, e as seqüelas deste atropelamento do modelo humano sobre
o próprio homem não param de se acumular. O homem moderno, inserido no modelo econômico
de alta produtividade não pôde parar. A vida nos engloba em um movimento que
nos toma por completo, e estamos reféns de uma situação construída por nós
mesmos.
Podemos amar a natureza e louvar os “tempos antigos” onde
havia harmonia e equilíbrio. Apesar disso, um dia acordamos e temos necessidades econômicas, precisamos comprar
nossa casa, queremos visitar a praia, desfrutar do mundo ou simplesmente
sobreviver. O acesso a vida depende de nos tornarmos produtivos, e ingressamos em
um modelo econômico, que sobrevive da aceleração da economia.
Isso significa que, para gerarmos empregos, temos de produzir,
mais e mais, sem parar, fazer mais carros, construir mais casas, aumentar
constantemente o uso de usinas, barrar mais rios, criar mais lixo radioativo,
indiferença em relação aos excluídos, mais doenças, mais hospitais,
monoculturas repletas de agrotóxicos e transgênicos, criar mais o que se comprar.
Trabalhamos arduamente para um mundo em constante piora, e é melhor não
pararmos para pensar, uma vez que não existe saída.
Hoje no nosso país, assim como no mundo, tanto a política de
esquerda quanto de direita tem como regra básica governamental, constituir políticas
de aceleração da economia. Precisamos gerar empregos, criar renda, valorizar a
moeda, para que as condições sociais não despenquem e um novo inferno social e
estrutural, das crises econômicas, se estabeleça mais uma vez.
No Brasil sabemos bem, a crise que é causada pela diminuição
da aceleração da economia começa, logo pessoas começam a ficar desempregadas, a
violência volta a aumentar, a insatisfação vai se retro alimentando em cada uma
das conseqüências, e não pretendo neste texto apontar as possíveis soluções
para essa armadilha que se estabeleceu no modo de produção contemporânea, antes descrever de forma mais clara que pude
o paradoxo moderno em que nos aprisionamos, e sobre o qual devemos refletir.